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Por que a gestão escolar deve promover práticas antirracistas na escola?

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9 minutos
Educação antirracista: imagem mostra menina em sala de aula com mãos esticadas para frente.
1 de novembro de 2023

No cenário contemporâneo, a promoção da educação antirracista nas escolas é mais do que um imperativo ético, é uma necessidade para construir uma sociedade mais justa e equitativa. Com isso, a gestão escolar deve assumir um papel proativo na desconstrução das estruturas racistas, buscando promover práticas antirracista e garantir um ambiente de aprendizado onde todos os estudantes possam se sentir acolhidos, valorizados e livres de discriminação. Neste artigo, entenda a importância do antirracismo na escola e como a gestão escolar pode promover práticas para combater o racismo na escola e assegurar uma formação de cidadãos comprometidos com a luta antirracista. Continue a leitura!

O que é educação antirracista?

A educação antirracista é um conjunto de práticas e políticas educacionais que visam combater o racismo estrutural e promover a igualdade racial dentro do sistema educacional e da sociedade em geral.  Ela se concentra em identificar, desafiar e desmantelar as formas de discriminação racial presentes nas instituições educacionais, nos currículos, nos materiais didáticos, nas interações entre os membros da comunidade escolar e nas políticas públicas relacionadas à educação. Essa abordagem reconhece que o racismo não é apenas uma questão individual, mas também está enraizado em estruturas sociais e históricas. Portanto, a educação antirracista não se limita apenas a ensinar sobre a diversidade racial, mas também inclui uma análise crítica das relações de poder e privilégio que perpetuam a desigualdade racial.

O que diz a lei sobre a educação antirracista?

A Lei 10.639/2003 promoveu mudanças na Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB), tornando obrigatório o ensino da história e cultura afro-brasileira e africana no currículo escolar e a contribuição dos povos africanos e afro-brasileiros para a construção do Brasil. Ainda, anos depois, a Lei n.º 11.645/2008 foi sancionada, determinando a inclusão história e cultura indígena no currículo escolar das instituições de ensino. Ambas as leis contribuem para a promoção do antirracismo na escola, pois ajudam a desconstruir o racismo e suas raízes históricas, promovendo a valorização da diversidade e colaborando para a formação de cidadãos e conscientes e comprometidos com a luta antirracista. Para orientar a implementação das leis e das práticas antirracistas na escola, foram instituídas as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africanas. Ambas têm o objetivo de garantir uma abordagem efetiva e integrada da história, cultura e contribuições das populações africanas e afro-brasileiras na formação da sociedade brasileira. Complementando as diretrizes, o governo brasileiro elaborou um Plano Nacional de Implementação das Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação das Relações Étnico-raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africanas, que determina seis eixos estratégicos para amparar as práticas antirracistas na escola:
  • fortalecimento do marco legal;
  • política de formação para gestores e profissionais de educação;
  • política de material didático e paradidático;
  • gestão democrática e mecanismos de participação social;
  • avaliação e Monitoramento;
  • condições institucionais.

Qual a importância da educação antirracista?

A educação antirracistas na escola busca formar cidadãos conscientes, críticos e comprometidos com a justiça social. O contexto histórico e social do Brasil, marcado por séculos de escravidão e discriminação racial, resultou em estruturas que relegaram pessoas negras a piores condições sociais e de trabalho. Além disso, a mídia muitas vezes perpetua estereótipos de beleza que marginalizam e subjugam a imagem do corpo negro. Diante dessa realidade, a escola é vista como um espaço crucial para desafiar e mudar essa narrativa. Ao apresentar modelos e personalidades negras aos estudantes, a escola oferece representações positivas e contrapontos ao estereótipo estabelecido. Isso significa mostrar que a vida das pessoas negras pode ser diversa e rica em realizações, contrariando os estereótipos negativos impostos. Essa representatividade não é apenas sobre mostrar diferentes rostos, mas também sobre empoderar crianças e jovens negros, fortalecendo sua autoestima e autoconfiança ao verem que podem alcançar seus objetivos e ter sucesso em qualquer área. Além disso, a discussão sobre representatividade deve estar conectada à compreensão da história e estruturação social do país, para que os estudantes possam contextualizar e questionar a desigualdade e o racismo enraizados na sociedade. Para se ter uma ideia, o risco de suicídio entre jovens negros é 45% maior comparado a jovens brancos na mesma faixa etária. O racismo estrutural é fator determinante para a explicação desse dado. A vivência do racismo acarreta uma série de desafios e adversidades que afetam a saúde mental da população racializada. Esses desafios vêm tanto de fatores econômicos, relacionados à desigualdade econômica e oportunidades limitadas enfrentadas por indivíduos negros, quanto de fatores psicossociais, relacionados à discriminação, preconceito e estigma que enfrentam na sociedade. Assim, o sofrimento gerado por discriminação e preconceito pode levar os jovens negros a considerar o suicídio como uma forma de escapar dessa dor persistente. Isso destaca a urgência de abordar o racismo como um problema sistêmico e social que requer ações e mudanças coletivas para promover igualdade, inclusão e saúde mental para todas as pessoas. Essa abordagem decolonial e antirracista deve começar na educação infantil, pois as crianças negras sofrem e percebem racismo desde cedo, sendo importante que a escola seja um espaço onde elas possam aprender sobre a diversidade racial e cultural e sobre o combate ao racismo.

Qual o papel da gestão escolar na promoção de práticas antirracistas na escola

Letramento racial para professores

O racismo é estrutural e enraizado em diversas instituições, incluindo o sistema educacional. A formação inadequada dos professores em relação às questões raciais é um problema que perpetua a reprodução de estereótipos e a exclusão de grupos étnico-raciais, como a população negra e indígena. Assim, é fundamental que os gestores escolares ofereçam capacitação e treinamento aos discentes de modo que eles compreendam as estruturas e sistemas que perpetuam o racismo, como estereótipos, preconceitos, discriminação e desigualdades sociais. Além disso, a formação dos educadores deve incluir uma reflexão profunda sobre suas próprias identidades, preconceitos implícitos e privilégios. Isso é fundamental para que possam reconhecer suas próprias limitações e estarem abertos ao aprendizado e à transformação.  Os gestores escolares têm um papel vital nesse processo, garantindo que haja programas de formação e desenvolvimento profissional que abordem essas questões de forma sensível e construtiva.

Representatividade

A identificação e o espelhamento são componentes fundamentais na construção da identidade e no desenvolvimento pessoal. Quando os estudantes veem professores que se parecem com eles e que compartilham suas experiências, isso pode inspirá-los, aumentar sua autoestima e fortalecer sua motivação para aprender. Além disso, a representatividade dos professores ajuda a quebrar estereótipos e preconceitos, proporcionando uma perspectiva mais ampla sobre o mundo e enriquecendo a experiência educacional dos estudantes. Os educadores têm a oportunidade de se tornarem modelos e mentores, não apenas na transmissão de conhecimentos, mas também na promoção da inclusão, da justiça social e da equidade. Ademais, a representatividade precisa ser abrangente e inclusiva, incluindo não apenas os professores e funcionários, mas também os materiais educacionais, a cultura da escola e os eventos que ocorrem no ambiente escolar. Com isso, a gestão escolar deve garantir que os livros didáticos e outros materiais de ensino representem a diversidade étnica, cultural, de gênero e de origens socioeconômicas presentes na sociedade. Além de incluir histórias, figuras e contribuições de pessoas de diferentes origens e culturas, especialmente das comunidades afro-brasileira, africana e indígena.

Incorporação da educação antirracista no currículo e plano político pedagógico

O projeto político-pedagógico (PPP) é um documento fundamental que guia as ações e atividades de uma escola em curto, médio e longo prazo. É essencial que as práticas antirracistas na escola sejam descritas de forma clara, direta, objetiva e prática dentro do PPP para garantir um compromisso tangível com a promoção de uma educação antirracista. Com isso, envolver toda a comunidade escolar na construção e implementação do projeto político-pedagógico é crucial para garantir que ele seja eficaz e aplicável. Além disso, a criação de protocolos de práticas antirracistas na escola e sua incorporação nos Regimentos Internos Escolares são ações fundamentais para garantir uma abordagem sistêmica e institucional na promoção da igualdade e combate ao racismo dentro da escola. Esses protocolos devem estabelecer diretrizes claras para a conduta e atitudes que a comunidade escolar deve adotar para criar um ambiente seguro, inclusivo e antirracista.

Como colocar a educação antirracista em prática?

Formação e capacitação dos educadores

Professores e funcionários devem receber formação contínua sobre questões de raça, racismo e diversidade. Com isso, workshops e treinamentos regulares podem ajudar os educadores a entender os preconceitos inconscientes e a desenvolver estratégias para combatê-los. A formação deve incluir estudos de casos, discussões abertas e práticas reflexivas.

Políticas de inclusão e diversidade

A escola deve implementar políticas claras que promovam a inclusão e a diversidade, isso inclui a criação de um código de conduta que condene o racismo e a discriminação. Essas políticas devem ser comunicadas a todos os membros da comunidade escolar e aplicadas de forma consistente.

Engajamento da comunidade

A educação antirracista é mais eficaz quando envolve toda a comunidade escolar, incluindo pais, alunos e outros membros da comunidade escolar.  Por isso, criar eventos, palestras e workshops que discutam questões raciais pode promover a compreensão e o respeito. A participação ativa dos pais e da comunidade ajuda a reforçar as mensagens de inclusão e diversidade.

Avaliação e reflexão contínua

A implementação da educação antirracista deve ser um processo contínuo de avaliação e reflexão. As escolas devem regularmente revisar suas práticas, ouvir feedback de alunos e pais, e fazer ajustes conforme necessário. A autoavaliação constante garante que as ações tomadas sejam eficazes e que as metas de inclusão e equidade estejam sendo alcançadas.

Incentivo ao diálogo e debate

Promover um ambiente em que o diálogo e o debate sobre questões raciais sejam encorajados é fundamental. Para isso, é necessário estimular aulas e as atividades extracurriculares para incluir discussões sobre raça e diversidade.  Dessa forma, os alunos expressam suas opiniões e aprendem com as experiências dos outros. Isso ajuda a desenvolver empatia e compreensão mútua. Esse artigo foi útil para você? Continue acompanhando conteúdos sobre o ambiente e gestão escolar em nossas redes sociais. Estamos no Facebook, Instagram, LinkedIn, Youtube e Twitter.

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